domingo, março 12, 2006

Formação na cadeia fica aquém das expectativas


Na prisão não passam um dia sem pensarem na família e no dia da saída. Mas quando recuperam a liberdade demoram tempo a habituar-se ao olhar dos outros, a não ver nisso um sinal acusador. Esta é a história de quatro detidas no Estabelecimento Prisional de Tires que procuraram uma segunda oportunidade. Regressaram à escola, obtiveram o 9.º ano e novos sonhos. Agora, lutam para trabalhar e para não voltar a cair na tentação do crime.

Kátia, Maria, Sandra e Ângela inscreveram-se no curso que estava disponível, "Apoio familiar à comunidade", e aprenderam a gostar de disciplinas como cuidados de higiene, primeiros socorros, informática e inglês. Terminaram o curso em Julho, com muitas ilusões. Sonhavam trabalhar com crianças ou idosos.

Passados nove meses, duas delas já saíram em liberdade e as outras duas têm uma ocupação profissional, embora estejam ainda a acabar de cumprir pena. Das quatro, apenas a Ângela trabalha directamente na área para a qual o curso na prisão a preparou. Só que, para isso, teve de emigrar.

Julho de 2005

Oito mulheres das 12 que iniciaram o curso (houve quatro desistências) terminam a aula de informática, uma das suas preferidas. São finalistas, o que quer dizer que já ultrapassaram várias barreiras: cumpriram um horário entre as 09.00 e as 17.00; aguentaram 2040 horas de lições; respeitaram as regras de disciplina; souberam ouvir. Umas estão ali para ocupar o tempo - muito importante para quem cumpre uma pena maior -; outras para ganhar o subsídio de 120 euros mensais que ajuda a pagar o colégio dos filhos; outras ainda para obter um certificado.

O medo da exclusão social é uma realidade - e por isso taparam o rosto com as bonecas de trapo que fizeram num dos ateliers do curso em que aprenderam actividades lúdicas para fazer com as crianças. Não queriam ser reconhecidas.

Março de 2006

Essa exclusão continua a ser sentida por Maria, para quem a sorte tem sido madrasta - continua desempregada sete meses depois de ter saído da prisão. É, juntamente com Ângela, uma das mulheres com que o DN falou que saíram em liberdade.

Reconhecem que dificilmente conseguiriam obter o certificado de habilitações com a vida que tinham fora da cadeia. Mas, mesmo entre as que têm uma ocupação profissional permanecendo dentro da prisão, uma está numa área completamente diferente e a outra exerce numa função lateral, na restauração.

As aulas que frequentaram na prisão deviam prepará-las melhor para a vida. Só que não existe apoio após a formação e as horas de estudo ajudam a passar o tempo lá dentro, mas não garantem emprego cá fora.

Fonte: Diário de Notícias

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