domingo, março 26, 2006

Maioria dos sites públicos ignora necessidades especiais


Apenas 15% dos organismos directos e indirectos do Estado cumprem requisitos mínimos de acessibilidade. Associações dizem que "há a percepção de que as coisas estão mal", mas o sector privado é mais sensível à questão.

A maioria dos sites de organismos do Estado não é acessível a cidadãos com necessidades especiais. "O panorama não é muito famoso", reconhece Jorge Fernandes, do Programa Acesso da UMIC - Agência para a Sociedade do Conhecimento, salientando que "não estaremos muito longe do que se passa na Europa, em que 15% dos sites da Administração Pública (AP) cumprem os requisitos mínimos" de acessibilidade.

Em Dezembro, o programa "Acesso", que actua no âmbito Programa Nacional para a Participação dos Cidadãos com Necessidades Especiais na Sociedade da Informação, começou a utilizar um algoritmo de análise ( eXaminator) que avalia 60 critérios definidos a nível internacional e revela o índice de acessibilidade (Web@x) dos sites, numa escala de zero a dez valores.

Barreiras à navegação

Segundo o processo sistemático e contínuo de avaliação da Acessibilidade Web da AP (disponível no site do programa "Acesso"), os sites dos ministérios da Educação, Saúde, Agricultura e Administração Interna são autênticas barreiras aos cidadãos com deficiência, a apresentarem 0,1 valores. "É como estar perante uma página em branco", exemplifica Jorge Fernandes.

Também a Direcção-Geral da Saúde tem um índice Web@ax de 0,1 valores. E a página recentemente criada para o Centro Nacional de Emergência da Gripe Aviária não ultrapassa 0,2. Outros exemplos são a Secretaria de Estado das Comunidades (0,2), o Instituto Camões (3,1) e a Comissão Nacional de Eleições (3,3).

A Assembleia da República fica-se pelos 3,5 de classificação e o Governo chega aos 5. Na "era" Sampaio, o site da Presidência recolhia 2,0 valores mas, desde a posse de Cavaco Silva, disparou para os 8,6 e entrou directamente para o terceiro lugar do "top" dos sítios com melhores índices de acessibilidade, depois do Programa "Acesso" (9,7 valores) e do Plano Tecnológico (9,5). "Digamos que, com menos de 5 valores, o aluno chumbaria", diz Jorge Fernandes, acrescentando ao JN que "já foram analisadas mais de oito mil páginas com um grande grau de confiança".

Em 1999, uma resolução do Conselho de Ministros determinou aos organismos públicos que a leitura seja feita "sem recurso à visão ou dispositivos apontadores, designadamente ratos" e que "a obtenção de informação e respectiva pesquisa possam ser feitas através de interfaces auditivos, visuais e tácteis". Passados sete anos, ainda há muito a fazer.

Jorge Fernandes diz que o facto de não haver "mais páginas acessíveis" se deve "à forma como as pessoas aprenderam a construí-las" e "a ferramentas que induzem a cometer erros", lembrando que o site do programa "Acesso" disponibiliza o eXaminator, que permite a análise de qualquer página web, e o espaço Hera, que explica aos profissionais como eliminar erros.


Fonte: Jornal de Notícias

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