quinta-feira, março 16, 2006

Técnicos agredidos e a lidar com 80 processos cada um


As três comissões de protecção de crianças e jovens (CPCJ) do Porto receberam dois mil processos desde Fevereiro de 2004, metade dos quais estão ainda em investigação - um número "demasiado elevado" para os técnicos existentes, sublinhou ontem Manuela Rezende, directora do Departamento de Educação e Juventude da câmara municipal e coordenadora das CPCJ da cidade, num seminário sobre "Menores vítimas de violência". No mesmo dia, duas técnicas foram agredidas com vidros partidos no Bairro do Aleixo, também no Porto.

Existem "apenas 18 técnicos e uma quantidade enorme de processos para cada um", sublinhou a responsável no seminário organizado pela Junta de Freguesia de Paranhos. "Há casos em que um profissional tem entre 80 a 90 processos activos. Não estranhemos, por isso, que entre eles estejam uma Vanessa ou uma Joana", disse Manuela Rezende, referindo-se às duas crianças que recentemente morreram devido a maus-tratos.

Um dia depois de se ter iniciado o julgamento da avó, pai e tia de Vanessa, a criança do bairro do Aleixo - um dos mais problemáticos do Porto - que morreu devido a maus tratos constantes, a Associação de Promoção Social daquela zona denunciou a "inexistência" de políticas que previnam a ocorrência de casos similares. Em comunicado, aquela estrutura do Bairro do Aleixo garante que as situações de exclusão "se agravam dia após dia" e que a estigmatização desta população "se complica seriamente e caminha no sentido de se tornar irremediável".

Foi justamente no Bairro do Aleixo, e sob o signo da agitação que o julgamento do caso Vanessa está a provocar, que duas técnicas da Comissão de Protecção de Menores do Porto Ocidental foram ontem agredidas. A caminho de uma visita domiciliária "na Torre 3 ou 4, estávamos a tentar chegar lá pelo número", começaram a ser atingidas por vidros "do tamanho de um palmo", arremessados de uma das janelas. Segundo relataram ao DN, uma delas foi cortada no braço e na mão, tendo recebido tratamento hospitalar. Apresentaram também queixa na PSP - a suspeita recai sobre um grupo de miúdos. "O mais velho teria 17 anos, o mais novo dez." As técnicas garantem que não voltam ao bairro sem escolta policial.


Fonte: Diário de Notícias e Lusa

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