domingo, novembro 27, 2005

Ministro diz saber trabalhar "sob críticas"

Juízes não se levantaram nem aplaudiram discurso de Alberto Costa.
Ministro respondeu na mesma moeda e diz que não entra "em crise".

Foi num silêncio quase total, sentados, e quase sem um pestanejar de olhos que os cerca de 400 juízes receberam e ouviram o discurso do ministro da Justiça, durante a sessão de encerramento do seu VII congresso, ontem, no Algarve. Alberto Costa só foi aplaudido pelos convidados da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP), que organizou o conclave, e por um ou outro juiz a quem não chegou a informação de que a forma de protesto adoptada seria o silêncio total.

Os distraídos rapidamente se aperceberam da atitude de todos os outros e pararam imediatamente de bater as mãos. Em contrapartida, e para vincar ainda mais o silêncio dirigido ao ministro, os juízes aplaudiram, ostensivamente, e por vezes de pé, o discurso de Santos Serra, presidente do Supremo Tribunal Administrativo, que falou imediatamente a seguir a Alberto Costa.

Baptista Coelho, presidente da ASJP, foi também brindado com aplausos fortes e demorados, sublinhados ainda mais com sonoros e repetidos "bravo!". O ministro respondeu na mesma moeda. Não se levantou da cadeira nem aplaudiu nenhum dos discursos dos magistrados.

No final, disse aos jornalistas, que este é apenas "um momento" e que "não é "por esse momento, nem pela interpretação que é feita desse momento, num certo dia, que devemos extrair consequências". Alberto Costa respondia, assim, a uma pergunta sobre a sua permanência à frente da pasta da Justiça. "A vida política é uma vida que exige tempo para obter resultados. Eu estou muito convencido de que, com as medidas políticas e com a orientação que o Governo está a implementar, alcançaremos melhorias para o cidadão". O ministro disse saber "trabalhar sob aplausos", da mesma maneira que sabe trabalhar "sob críticas". E que não é pelo facto de haver quem discorde das medidas do Governo ou pense de maneira diferente que entra "em crise" de convicções ou em "depressão".

Alberto Costa voltou a frisar a ideia de que o Governo está a aplicar um programa sufragado pela maioria dos portugueses e garantiu que não há razões para temer a perda de independência do poder judicial, como foi vincadamente afirmado pelos juízes durante estes três dias de congresso.

Alexandre Baptista Coelho fez um discurso curto, apelando ao fim das crispações, mas frisando que isso não depende apenas dos juízes e que o respeito exigido, anteontem, pelo primeiro-ministro tem de ser recíproco.

Juízes garantiram serviços

O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses desvalorizou ontem a manchete do jornal "Público", segundo a qual mais de 30% dos magistrados não descontaram o ordenado relativo ao dia em que fizeram greve. Alexandre Baptista Coelho lembrou, como o próprio jornal também refere, que estes números são provisórios, uma vez que ainda não estão contabilizados todos os juízes que aderiram à greve. Mas sublinhou que a notícia tem dois aspectos "positivos" prova que os serviços mínimos foram assegurados pelos juízes e que os serviços do Ministério da Justiça que se ocupam do processamento dos ordenados estão a fazer os acertos nos vencimentos com uma celeridade inédita. Normalmente, disse Baptista Coelho, demoram "mais de um ano".

por Clara Vasconcelos, in www.jn.sapo.pt

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