domingo, novembro 13, 2005

Iraque: mais de mil advogados retiram-se da defesa de Saddam Hussein


Pelo menos 1100 advogados iraquianos retiraram-se da equipa de defesa do antigo Presidente Saddam Hussein, alegando falta de protecção após dois dos seus colegas terem sido assassinados. Num comunicado divulgado em Bagdad, os causídicos repetiram o apelo para que o julgamento do ditador seja cancelado no Iraque.

No documento, tornado ontem público na capital iraquiana, os advogados justificam a sua decisão com a “falta de resposta por parte do Governo iraquiano, forças norte-americanas e organizações internacionais para que seja providenciada protecção para os advogados e as suas famílias”.

Não é referido se o principal advogado de Saddam, Khalil al-Dulaimi, se inclui no protesto, mas é indicado que outros membros da equipa que garante a defesa do antigo líder iraquiano e outros arguidos ligados ao regime do ditador continuam a desempenhar as suas funções “sob circunstâncias complexas e perigosas”.

No seu manifesto, os causídicos protestam contra a morte de dois dos seus colegas e a alegada falha das Nações Unidas em responder aos seus vários pedidos para que impeçam o assassinato de outras pessoas associadas ao processo.Os advogados afirmam estar impedidos de cumprir as suas funções, incluindo contactar testemunhas e preparar os argumentos da defesa, devido “a ameaças organizadas, intencionais e sistemáticas”.

Dois dos advogados que pertenciam à equipa de defesa de Saddam foram mortos desde o início do julgamento, a 19 de Outubro último. Adel al-Zubeidi, que representava o antigo vice-presidente Taha Yassin Ramadan, foi assassinado na última terça-feira, quando a sua viatura foi baleada numa zona árabe sunita em Bagdad. Os disparos feriram Thamir al-Khuzaie, advogado de outro arguido no processo, o meio-irmão de Saddam, Barazan Ibrahim.Al-Zubeidi morreu três semanas depois do sequestro e assassinato de Saadoun al-Janabi, outro advogado de defesa. O seu corpo foi encontrado um dia após o início do julgamento, com uma bala na cabeça, atrás de uma mesquita, no bairro de Our. Al-Janabi representava Awad al-Bandar, um antigo juiz e adjunto do chefe de gabinete de Saddam.

Após a morte do primeiro advogado, a defesa anunciou que não iria cooperar com o tribunal e que se recusava a comparecer na próxima sessão, até a sua segurança estar garantida.Laith Kubba, porta-voz do primeiro-ministro, Ibrahim al-Jaafari, avança que os advogados recusaram, por duas vezes, convites para se instalassem na Zona Verde, onde poderiam ser protegidos pelas tropas internacioinais.

O antigo Presidente e sete outros arguidos estão a ser julgados por um tribunal especial iraquiano, cuja próxima sessão foi adiada para 28 de Novembro. São acusados pela morte em 1982 de 148 xiitas muçulmanos em Dujail, após uma tentativa de assassinato contra Saddam naquela cidade a norte de Bagdad.

in Publico.pt

Sem comentários: