sexta-feira, abril 14, 2006
Magistrados do Ministério Público lançam ataque à novela da TVI
Bêbado e agressivo, ‘Gonçalo’ vai prometendo deixar de beber e bater na jovem ‘Sara’, a mulher com quem vai ter um bebé e está casado há pouco mais de um ano. Não resiste à tentação e, meses a fio, o drama repete-se à chegada a casa. Em ‘Dei-te Quase Tudo’, telenovela da TVI em horário nobre, ‘Sara’ foge para longe de Lisboa aconselhada pelos amigos, porque “não ganha nada em queixar-se à Polícia”.
Um exemplo que, para dois magistrados do Ministério Público, Carlos Figueira e Plácido Fernandes, “é péssimo para a sociedade” no combate a “um dos grandes flagelos do século – a violência doméstica”. E, ainda por cima, tratando-se de uma novela “vista diariamente por dois milhões de pessoas”.
E tudo porque, segundo defenderam os dois procuradores, em seminários sobre violência doméstica na Amadora e em Cascais, “no guião da telenovela, a vítima é desencorajada a recorrer à Justiça e foge para longe com o bebé – caso contrário nunca irá ter descanso”.
Os dois magistrados apresentaram várias passagens da telenovela, “referentes aos últimos dois meses”, que “dão precisamente os indicadores contrários à comunidade” daqueles pelos quais as autoridades há tanto tempo lutam. “Vale sempre a pena apresentar queixa, para que a situação fique desde logo sinalizada judicialmente e mais tarde se possa utilizar essa matéria para contextualizar a acção do agressor.”
Os dois procuradores e a comandante operacional da PSP da Amadora, comissária Nery, consideram que a fuga só pode acontecer em situações extremas, “perante a indesejável ineficácia do sistema”.
Ou seja, “as próprias instituições” que vão tendo conhecimento destes casos “devem colocar os problemas directamente ao Ministério Público, para que a magistratura e PSP sejam responsabilizados pela resolução dos problemas”. Porque, sem queixa, “é impossível”.
Carlos Figueira e Plácido Fernandes, ex-secretário-geral do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, repudiam assim “a mensagem que a novela de maior audiência em Portugal passa para a comunidade” – contrária “ao desenvolvimento do próprio sistema de Justiça e às reformas em curso” (...).
E mostraram surpresa pelo tratamento dado a esta questão, pela TVI, quando até tem mostrado preocupação “noutros programas de entretenimento e em blocos informativos”.
O canal de Queluz merece, desta forma, “uma nota crítica pelo mau exemplo do entretenimento pelo entretenimento”. Finalmente, “nem se diga que [a telenovela] é um espelho da realidade. E a prova são todos os que, diariamente, combatem o flagelo da violência doméstica”.
(...)
in Correio da Manhã (texto integral)
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