segunda-feira, janeiro 23, 2006

Polícia morreu ao salvar jovem


Um agente da PSP morreu e outro ficou ferido, ontem de manhã, quando socorriam um jovem que caiu à linha ferroviária, entre as estações de Santos e Alcântara-Mar, mesmo em frente à discoteca "Queens", Lisboa. O jovem saiu quase ileso do acidente, mas os polícias, que arriscaram a vida fora do horário de serviço, não tiveram a mesma sorte.

O agente principal Rui Lemos, de 30 anos, natural de Guimarães, acabou por falecer no bloco operatório do Hospital S. Francisco Xavier. Deixa mulher e dois filhos menores, um com apenas três meses e outro com quatro anos. Bruno Oliveira, de 24 anos, natural de Vila Real, sofreu um traumatismo abdominal grave, mas está livre de perigo e recupera no Hospital de S. José.

Pouco passava das 6.30 horas quando um jovem de 25 anos - alcoolizado, segundo testemunhas - tentou saltar a vedação de protecção da linha do comboio. Os polícias, que esperavam por transporte na Rua da Cintura do Porto de Lisboa, em paragens de autocarro de cada um dos lados da linha, viram o indivíduo tropeçar e cair à linha. Partiram ambos em seu auxílio.

Nevoeiro

Rui Lemos acabava de sair de serviço na Divisão de Segurança a Instalações, situada a poucos metros, e ainda estava fardado. Bruno Oliveira dirigia-se para a 26ª esquadra (Belém), pertencente à 4ª divisão. Os polícias conseguiram colocar a salvo o jovem, mas foram surpreendidos por um comboio que circulava no sentido Cais do Sodré-Cascais.

O forte nevoeiro que se fazia sentir poderá ter contribuído para o trágido acidente, já que o local oferece visibilidade. A circulação na linha de Cascais esteve cortada, para socorro às vítimas, durante 20 minutos.

O jovem de 25 anos, que alegadamente saltou a vedação para levantar dinheiro num multibanco, sofreu algumas escoriações e hematomas. Recebeu assistência médica no Hospital de S. José. Rui Lemos entrou nos Cuidados Intensivos do S. Francisco Xavier com hemorragias internas e traumatismo craniano, torácico e abdominal, segundo apurou o JN junto do chefe de equipa de Urgência, Joaquim Torrinha. Faleceu pouco depois do meio-dia.

O Comando Metropolitano da PSP de Lisboa já emitiu um comunicado a lamentar o acidente, garantindo que será investigado. "Deste trágico acidente, o Comando Metropolitano de Lisboa e a Polícia de Segurança Pública demonstram o seu consternamento e a sua profunda tristeza pela morte do agente principal Rui Lemos. Oportunamente, e logo que se tenham apurado as circunstâncias deste trágico acodente na sua totalidade, emitirá novo comunicado", pode ler-se no documento enviado pela Polícia às redacções. Também os principais sindicatos salientaram o espírito de serviço demonstrado pelos dois agentes (...).

Consternação

A morte trágica do agente da PSP deixou a vila de S. Torcato, em Guimarães - de onde era natural - mergulhada num ambiente de consternação. Rui Miguel Brás Lemos, de 30 anos, deixou a terra natal quando decidiu ingressar no corpo da Polícia de Segurança Pública, encontrando-se destacado em Lisboa há cerca de cinco anos.

O agente tinha residência em Vila Verde, terra de onde é natural a mulher. "Esperávamos por ele todos os fins-de-semana. Era um pai dedicado e estava sempre pronto a ajudar", enaltece, comovida, a mãe, Maria Fernanda Brás.

Os pais são proprietários de um café e de um supermercado no centro da vila e conhecidos por quase toda a população, que elogia o altruísmo que sempre distinguiu Rui Miguel Lemos, o segundo irmão mais novo de cinco filhos.

A família foi contactada, pela primeira vez, ontem de manhã, pelas 9.30 horas, pelo comando metropolitano da PSP de Lisboa, que informou sobre o acidente grave de que o agente havia sido vítima. Pouco depois do meio-dia foi comunicada, via telefone, a notícia da morte do polícia, cujo corpo será autopsiado durante o dia de hoje em Lisboa. O funeral deverá realizar-se amanhã, seguindo para Vila Verde, onde será sepultado.

Fonte: Jornal de Notícias

Sem comentários: