"Ficaram inquietas e chocadas as almas mais sensíveis depois de ouvirem Fernando Ruas, o presidente da Câmara de Viseu e presidente da Associação Nacional de Mu-nicípios Portugueses, dizer alto e bom som que os fiscais ao serviço do Ministério do Ambiente deveriam ser "corridos à pedra-da" pelos autarcas. A inquietação vem do apelo ao uso da violência, o choque vem do facto de Ruas ter sido escolhido pelos seus pares como digníssimo porta-voz dos mu-nicípios.
Ora, para mim a coisa não podia bater mais certa: é justamente porque a maioria dos autarcas deste país gostaria de correr à pedrada os fiscais - do ambiente, das finanças, de toda a espécie... - que Fernando Ruas é o presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses. E é por vivermos no lume brando da ameaça sem consequências que, oito dias depois, Fernando Ruas continua a ocupar os seus lugares públicos. Em Portugal, ser autarca é bem melhor do que ser ministro - por contar uma anedota infeliz, caiu o ministro Carlos Borre-go em menos de 24 horas e nunca mais ouvimos falar da figura.
Fernando Ruas não apenas se mantém no seu posto como explica que afinal a pe-drada era apenas em "sentido figurado" e pretendia traduzir a vontade de lutar contra a burocracia. Alguém sugeriu que o senhor pedisse desculpas pelo que afirmara. Mas Ruas foi português até ao fim: "Não haverá nenhum pedido de desculpas. O que me preocupa é fazer uma guerra aberta à burocracia, quer seja a do Terreiro do Paço, quer seja a da administração local."
Há algo de estranho nesta declaração: só os fiscais do ambiente é que são burocratas? A burocracia, em Portugal, não começa exactamente nas câmaras municipais? Defenderá Ruas que a populaça comece a correr com os autarcas à pedrada?
Num país civilizado, Fernando Ruas tinha pedido desculpas públicas, depois teria pedido a demissão, e agora estava tranquilamente em casa, cumprindo aliás o voto que deixou aos seus eleitores nas últimas autárquicas: "Digo presente ao futuro dos viseenses, porque respondo por tudo aquilo que faço." Em Portugal, no meio do entusiasmo do Mundial e da remodelação de Sócrates, nem foi preciso correr com o assunto à pedrada. Morreu na praia, impune e tristemente."
quarta-feira, julho 05, 2006
Impunemente à pedrada
Pedro Rolo Duarte
Jornalista
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2 comentários:
Onde vai parar o poder político!?
Até um misero autarca maltrata, incita à violência, diz que não pede desculpas e continua agarrado ao tacho.
Haja paciência
Gostaria de saber se o "multador" do ambiente não será um partidário PS, pois que talvez isso justifique o que o eleito Ruas disse.Depois é preciso ter em atenção a "obra" concreta que foi multada.Não teria sido só para chatear?
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