domingo, julho 30, 2006

DROGA: Não há listas de espera para tratamento


Não há listas de espera para tratamento da toxicodependência. Nem nos centros de atendimento a toxicodependentes (CAT), nem nas unidades de desabituação de drogas, nem nas comunidades terapêuticas. A garantia é do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) que quer instituir um "novo paradigma" na forma de abordar a problemática. Mas nem por isso a Convenção Europeia de Narcóticos Anónimos que juntou este fim-de-semana mais de mil "adictos em recuperação" no Porto - que são a prova de que o fenómeno pode ser abordado de outra maneira (...) - contou com a presença de representantes do IDT.

Em Portugal, no espaço de uma ou duas semanas, todos os toxicodependentes que se dirijam a um CAT têm consulta. Para fazer desintoxicação, nas unidades de desabituação, ou entrar nas comunidades terapêuticas, que pressupõem um internamento mais ou menos prolongado depois de resolvida a dependência física, o prazo também não excede os 15 dias, garantiu ao JN Manuel Cardoso, membro do Conselho de Administração do IDT. Nos últimos anos, o número de pessoas que recorre aos CAT diminuiu para quase metade - um sinal revelador da mudança no perfil dos consumidores portugueses.

No ano passado, cerca de 3.200 toxicodependentes passaram pelas unidades de desabituação, outros tantos frequentaram as comunidades terapêuticas. Quantos ficaram efectivamente curados da adição, não se sabe. Porque falar em "taxas de sucesso no tratamento da droga é muito difícil", como reconhece Manuel Cardoso, adiantando, porém, que 40% dos utentes das comunidades terapêuticas termina o programa. Muitos precisam de mais do que uma oportunidade de tratamento. Outros substituem o consumo de uma substância por outra. No caso dos heroína, por exemplo, há quem nunca deixe a metadona. Os heroinómanos continuam a representar a maioria (75%) dos utentes dos CAT, embora os consumidores de cannabis já sejam 11% do total.

Fora do sistema continuam os utilizadores de drogas sintéticas. Seja por consumirem esporadicamente ou porque não se consideram dependentes, a verdade é que raramente procuram ajuda nos serviços públicos, explica o responsável do Instituto da Droga e da Toxicodependência.

Os novos padrões de consumo - designadamente, as misturas de substâncias e as novas drogas usadas em contexto de diversão - são um dos eixos do plano de combate ao fenómeno da toxicodependência recentemente aprovado. As acções de prevenção ainda não estão definidas, embora se pretenda que sejam "intervenções focalizadas", em ambientes nocturnos e no seio das famílias.

O primeiro passo para a concretização da estratégia de combate à toxicodependência é a avaliação da situação, no terreno, que as delegações regionais do IDT estão a realizar com os parceiros locais. O diagnóstico deverá estar concluído em breve, de forma a que, até ao fim do ano, cada distrito tenha aprovados dois projectos de intervenção, de acordo com Manuel Cardoso. No caso das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, as sala de injecção assistida (vulgo "salas de chuto") podem ser incluídas nas medidas de redução de danos.

O que está em causa, com o novo plano de combate à toxicodependência, é todo o modelo de actuação nesta área. Até agora, as instituições apresentavam candidaturas e cabia ao Estado, através do IDT, financiar os projectos aprovados. Agora, pretende-se mudar o paradigma. A partir do diagnóstico no terreno, o Instituto contratualiza os serviços para concretizar a estratégia que definiu para cada território, em colaboração com os parceiros.

Por Helena Norte, in Jornal de Notícias

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