sexta-feira, dezembro 09, 2005

Mediador da ONU afirma que Estados Unidos têm prisão ilegal no Kosovo


O mediador da ONU no Kosovo, Marek Antoni Nowicki, afirma hoje, num artigo publicado no diário alemão "Berliner Zeitung", que na base norte-americana de Bondsteel, no Kosovo, funciona uma prisão norte-americana "sem controlo jurídico" e semelhante à existente em Guantanamo.

"O que vimos na prisão é semelhante ao que conhecemos de Guantanamo", escreve o jurista polaco a propósito de uma visita que realizou ao campo de Bondsteel entre o final de 2000 e o início de 2001.

A afirmação deste responsável - que diz não ter voltado ao local depois de 2001 - coincide com as declarações feitas há duas semanas pelo comissário europeu para os Direitos Humanos, Álvaro Gil Robles, que disse ter visto, em Setembro de 2002, uma "réplica, mais reduzida, de Guantanamo".

Depois das declarações de Gil Robles ao jornal francês "Le Monde", o porta-voz das tropas norte-americanas no Kosovo, o comandante Michael Wunn, negou a existência de qualquer prisão secreta em Bondsteel. Segundo este responsável, o que ali existe é "um centro de detenção da força da NATO" que actualmente não tem qualquer detido e está "sob comando e controlo do general John Harrell, comandante da brigada leste da Kfor".

Homens vestidos com "fatos de macaco" cor de laranja atrás de arame farpado

"Não pode haver qualquer dúvida de que existe uma prisão no Campo Bondsteel há vários anos, que não é submetida a nenhum controlo externo, civil ou jurídico", afirma hoje o mediador da ONU que, tal como Robles, diz ter avistado prisioneiros vestidos com "fatos de macaco" cor de laranja atrás de rolos de arame farpado. O responsável afirma ainda que, no segundo semestre de 2002, o campo albergava mais de 70 prisioneiros.

Nowicki diz também que advertiu a administração civil da ONU e a força multinacional da NATO no Kosovo (Kfor) das "circunstâncias ilegais" do campo de detenção de Bondsteel, tendo recebido da Kfor a informação de que as pessoas ali detidas representavam "um perigo para a segurança pública do Kosovo".

"Oficialmente, já não há uma prisão em Camp Bondsteel mas, como não podemos confirmar, a suspeita mantém-se. Na verdade, não fazemos a mínima ideia do que lá se passa", escreve Nowicki.

De acordo com a organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional, vários colaboradores árabes de associações humanitárias britânicas, norte-americanas e muçulmanas foram detidos em duas ocasiões (Dezembro de 2001 e Agosto de 2002) por soldados da Kfor e foram mantidos durante vários dias em Bondsteel.

A base militar de Bondsteel situa-se perto da localidade de Ferizaj (Urosevac, em sérvio), a sul de Pristina, estende-se por 300 hectares e chegou a albergar seis mil militares norte-americanos.O Kosovo, província da Sérvia de população maioritariamente albanesa, é administrado pelas Nações Unidas desde o fim da guerra, em 1999. Para garantir a paz e a estabilidade mantêm-se no território cerca de 17 mil soldados da NATO, dois mil dos quais norte-americanos.

in www.publico.pt

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