domingo, dezembro 18, 2005

Crime violento sobe em flecha em Portugal

Balanço: Número de assaltos a bancos subiu 92% relativamente ao ano passado Roubos com armas cresceram cerca de um terço, e criminalidade violenta aumentou fortemente

Salta aos olhos e é um facto confirmado pelos números. A criminalidade violenta está a aumentar fortemente em Portugal. Quem o garante ao JN é Leonel de Carvalho, secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança Interna, na posse de dados comparativos relativamente a 2004.

Assiste-se ao regresso sistemático de crimes já guardados na memória de há dez e 20 anos, mas com uma diferença as polícias são cada vez mais alvo de agressões e disparos, por vezes mortais. "Em média estamos a assistir a três ou quatro agressões diárias a agentes de autoridade", sustenta.

Os riscos aumentaram, até porque o "recurso às armas de fogo é cada vez maior e sem preocupação nos danos que são causados". Em termos gerais, os números de crimes têm vindo a descer - "embora não significativamente" -, "mas verifica-se a aplicação de uma maior violência, em particular no segundo semestre deste ano".

Consequentemente, "existe, no seio das polícias, o receio de que a criminalidade atinja níveis nunca antes vividos e próximos dos piores índices europeus a nível de violência", explica Leonel de Carvalho. Exemplo dado por este responsável é o dos assaltos a bancos. "Comparativamente ao período homólogo de 2004 aumentaram 92 por cento", afirma.

Banditismo cresce 30%

Os dados na posse da Direcção Central de Combate ao Banditismo (DCCB) da Polícia Judiciária (PJ) apontam no mesmo sentido. Mas com a diferença de se referirem não só a assaltos a bancos mas também a carrinhas de valores, estações de serviço, correios e a generalidade dos assaltos à mão armada.

"Neste segmento a subida está muito próxima dos 30 por cento", sublinha ao JN Teófilo Santiago, director-nacional adjunto da PJ. Além de reconhecer o maior volume de casos com que tem de lidar diariamente, o responsável máximo da DCCB assume ainda o sentimento de "maior violência nos crimes". Tudo bastante por força do uso de armas cada vez mais sofisticadas. Apetrechos que, em vários casos, colocam a ridículo a forma como se apetrecham as polícias, além de acentuarem um quadro de extrema insegurança, pelo fomento de um mercado aparentemente bem organizado de tráfico de armas. "Mas a situação não está fora de controlo. Estamos atentos", avisa Teófilo Santiago.

"Não aumentaram tanto os crimes contra as pessoas. Mas cresceu o número de crimes contra o património, com uso de armas de fogo e violência, que se reflecte nas pessoas", assinala, por sua vez, Rui Pereira, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organiza e Terrorismo, atento ao aumento "paulatino, desde há dez anos", fruto de "tendências urbanas", de criminalidade que apoia a sua violência pela força das armas de fogo.

O aumento da criminalidade violenta ainda beneficia do vazio legal existente quanto ao crime de tráfico de armas. A quantidade de dinheiro disponível torna-se, assim, na única condicionante à quantidade e qualidade do armamento que é possível adquirir nomercado negro, como explicou ao JN um dos membros do antigo gangue do "Vale do Sousa", grupo que, há quatro anos, matou a tiros de metralhadora o inspector da PJ, João Melo. Dinheiro que sobra aos assaltantes na medida em que tem faltado às polícias.

Por Carlos Varela, Nuno Miguel Maia e Nuno Silva
in jn.sapo.pt

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