domingo, dezembro 18, 2005

"Investiram milhares para arranjar as armas"

"Eles tinham muito armamento. Investiram milhares de contos para o arranjar". Paulo Cunha não tem dificuldades em falar de um passado que diz querer esquecer. Foi membro do "gangue do Vale do Sousa" - o grupo que ganhou fama, há quase cinco anos, pelos assaltos a carrinhas de valores e que é ainda acusado de envolvimento no homicídio de um inspector da PJ do Porto - e, apesar de jurar não ter feito parte do núcleo duro do bando, não esconde a importância dada às armas.

"Eram pesadas, como metralhadoras. Não faço ideia de onde as iam buscar, só sei que conseguiam as munições nos armeiros", revela ao JN, ressalvando que apenas participou numa das investidas (precisamente a que teve um desfecho mortal na sequência da emboscada da PJ). Recorde-se que João Melo, o inspector abatido, foi atingido com disparos de uma metralhadora "Kalashnikov".

Em relação a esse incidente, cujo processo será julgado separadamente ao dos assaltos, Paulo Cunha sublinha que não teve qualquer intervenção, além do facto de acompanhar o autor dos disparos. "Não usei nenhuma arma. A minha missão foi apenas transportar os sacos do dinheiro e conduzir o carro".

"Convite" irrecusável

Condenado em primeira instância a um pena de oito anos (reduzida para seis pelo Tribunal da Relação) no processo dos roubos, o mesmo interlocutor acabou por ser libertado, em Abril passado, depois de ter sido excedido o prazo da prisão preventiva - esteve quatro anos e três meses na cadeia de Custóias.

Aguarda agora pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça, relativa ao recurso, e por novo julgamento, agora pela morte do inspector.

De resto, Paulo Cunha diz estar arrependido de ter integrado o gangue. Mas recorda a proposta milionária que lhe foi feita na altura. "Disseram-me que o assalto ia render 100 mil contos a cada um (éramos seis)", confidencia.

"Eu não estava em mim. Fizeram-me a oferta e alinhei. Na altura, não tinha nada a perder e nem pensei. Não tinha casa nem carro. Porque não haveria de arriscar?" , argumenta.

Bandos "cada vez piores"

Mesmo tendo integrado um bando que se destacou pela violência, Paulo vê com surpresa a vaga de criminalidade que tem assolado o país, e que já resultou, este ano, na morte de quatro agentes da PSP.

"Pelo que sei das notícias que tenho lido, dá a impressão que os gangues não fazem as coisas à toa. Estão cada vez mais violentos, usam mais armas e não se importam de disparar. Estão cada vez piores", comenta, lembrando que o seu gangue tinha particular cuidado na preparação de todos os assaltos. "Era tudo bem planeado. Eles sabiam os trajectos e horários das carrinhas de valores", diz.

in jn.sapo.pt

Sem comentários: