sexta-feira, maio 26, 2006

Autores sem direitos


A Crónica de
Paulo Querido

in Expresso Online

"Esta semana o recorrente tema do plágio voltou à blogosfera portuguesa. Dois casos: Nelson Santos fala de um post com vida própria no desBlogueador de conversa, um original que reclama seu e que foi primeiro distribuído por correio electrónico sem menção da autoria e depois reproduzido noutros blogues, igualmente sem creditar o autor.

No
Praça da República em Beja nikonman levanta o problema das fotos repetidamente reproduzidas sem respeitar os direitos de autor, falando de isto se ter tornado «um hábito».

Na verdade, tornou-se um hábito. Até que ponto é consciente, até que ponto gerará algum tipo de vantagem para quem o faz (e de desvantagem para o "primeiro" autor), são dúvidas que me assaltam há dez anos, sem nunca ter chegado a uma conclusão. A Internet funciona de forma viral: transmite-se o essencial, a mensagem, que vai sendo modificada pelos nós de passagem, ficando o acessório (a autoria original) pelo caminho.

A cultura da partilha não valoriza a originalidade embora paradoxalmente favoreça a individualidade. A rede social está mais perto do formigueiro, que produz obra colectiva anónima, que do paradigma da obra como expressão de um organismo (indivíduo, grupo de interesses), que vingou até ao início deste século e a que muitos continuam agarrados.

Para ser franco, penso que os conteúdos digitais distribuídos em rede viral (numa palavra: a infoesfera em que habitamos da qual fazem parte a Internet, as telecomunicações móveis, os jornais, rádio e televisão) criaram um ambiente impossível para a sobrevivência dos direitos de autor. Claro que nesse mundo de autores sem direitos algo substituirá o sistema de compensações que tal legislação presuntivamente garantiu ao longo dos dois últimos séculos. Simplesmente, ainda não surgiu claro o novo sistema (ou sistemas) que recompensará a produção original e distribuição de matérias digitais e serviços na rede.

Entretanto, duas sugestões para nikonman e Nelson Santos e todos os que se preocupam com a autoria ao ponto de querer seguir - evitar é impossível - o plágio e a cópia: uma, seguir o que se vai escrevendo no Plagiarism Today; outra, o uso da ferramenta Numlycapaz de gerar e "colar-lhes" estampilhas electrónicas que permitem a protecção legal ou o simples "tracking" pela rede de textos, imagens, ficheiros áudio e vídeo, ebooks, praticamente todo o tipo de formatos digitais.

Experimentarei em breve este último, na perspectiva do "tracking". Continuo a pensar o mesmo: deitar um trabalho à rede é despedirmo-nos dele como de um filho que sai de casa."

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