terça-feira, setembro 05, 2006

"Primeira Carta"


«(...)Entretanto, deixa que te conte uma pequena história: um antigo condiscípulo e amigo de um ministro procurou-o para tentar que este lhe arranjasse emprego para o filho que, havia pouco tempo, tinha completado, com muita dificuldade, o 12º ano.

- Sabes - disse o pai do rapaz ao seu amigo ministro -, o meu filho anda por lá sem ocupação; é só sair de noite com os amigos e dormir de dia!...

- Vai-se dar um jeito! - respondeu o ministro. - Vou arranjar um cargo de assessor para o teu filho! É coisa para uns quinze mil euros mensais!

- Ena pá, isso é de mais! - volveu o pai. - Não tens por lá uma coisa em que se ganhe menos, porque tanto dinheiro pode subir-lhe à cabeça?!

- Bem! - exclamou o ministro. - Só se for para adjunto do meu gabinete, mas isso ainda dá uns dez mil euros por mês!

- Ainda é muito! - retorquiu o amigo. - O ideal seria um emprego aí de uns dois mil ou dois mil e quinhentos euros mensais!

- Oh, não! - sentenciou o ministro. - A esse nível é necessário ser licenciado em Direito e, de preferência, ter feito o mestrado!

Como facilmente te apercebes, esta história é fictícia e não tem a menor hipótese de se ter passado no nosso país. Serve apenas para te dar um exemplo das dificuldades que te esperam por teres escolhido a profissão de advogado.(...)»

BRAZ, Manuel Poirier, "Cartas a um jovem advogado", Editorial Presença, 1ª Edição, Lisboa, 2006, pp. 13 e 14.

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