"Países como a Finlândia não valem nada, vistos sob determinada bitola. Segundo a ONG Transparência Inter- nacional, que faz a lista da corrupção internacional - alinhando, por ordem crescente, os países mais corruptos -, a Finlândia ocupa o inocente primeiro lugar. Naturalmente, àqueles que compram funcionários e políticos, que sabem como pronunciar "pagar por baixo da mesa" em várias latitudes - "envelopes vermelhos", na China, "backschich", nos países árabes, "matabiche", na África francófona... -, não lhes interessa ter por destino um país tão desprezível, pelo seu prisma, como a Finlândia. Já Portugal pode ser mais interessante para os corruptores: está em 26.º lugar. Aparentemente, vale a pena a viagem até cá.
A Transparência Internacional faz a sua lista por indícios (ela chama-lhe "percepção"). A corrupção, sabe-se, tem esse defeito de ser muito suspeitada e pouco provada. E Portugal, como o demonstram as págs. 20 e 21 do DN, é bem a imagem disso: apesar de tantos fumos de corrupção, de tantas ameaças de processos e de tantos processos, enfim, de tantas suspeitas, o balanço é magro. Há oito presos e todos ligados à imigração clandestina. Vai-se a ver, uns pobres estrangeiros apanhados a oferecer um punhado de euros para a sua legalização. Como se resume naquelas páginas: "Suspeitas, muitas; julgamentos, alguns; presos, nenhuns."
Portugal resolve mal, pois, o combate à sua corrupção. Esta nasce alegada, como querem as regras da presunção de inocência, mas acaba, e está aí o problema, da mesma forma, alegada. Isso é, aliás, o que se esperava de um país que, num processo célebre, conseguiu encontrar, na mesma sentença, um corruptor e inocentar um corrompido, como se fosse possível haver aquele sem este. Portugal resolve mal a sua corrupção. E faz mal.
No encontro que reúne em Lisboa magistrados tão mediáticos como o espanhol Baltasar Garzón, a portuguesa Maria José Morgado e o italiano Francesco Borreli (de um dos raros países europeus, na lista da Transparência Internacional, considerado mais corrupto que Portugal), o PGR francês, Jean-Louis Nadal, considerou a corrupção tão grave que mereceria um interlocutor ao seu nível: um Ministério Público europeu.
Venha ele, venha essa cooperação europeia, e talvez nos resolva aquela discrepância de números, acima referida. Número tão alto na escala dos países corruptos (26.º) e número tão baixo de presos. Já que temos a fama, que tenhamos o proveito de ver dentro das grades mais gente que nos mina o País."
terça-feira, março 27, 2007
Tão poucos presos
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