sábado, fevereiro 10, 2007

Pais de menores delinquentes são tolerantes face aos crimes dos filhos


A maioria dos progenitores de 153 menores, residentes em Lisboa, alvo de processos tutelares e educativos, manifestou-se tolerante e indiferente em relação aos crimes por eles praticados. De acordo com um estudo sobre a "tipologia do delinquente juvenil urbano", os pais "não pareceram preocupados em adoptar, perante os filhos, uma postura de reforço das normas jurídico-sociais". Também as escolas não estão preparadas para dar resposta a estes jovens. Foi uma das investigações apresentadas ontem, no primeiro congresso internacional de intervenção com crianças, jovens e famílias, que hoje termina na Universidade do Minho (UM), em Braga.

Para além de uma atitude de permissividade e indiferença face às condutas desviantes dos filhos, a supervisão feita por estes pais é pouco frequente. "O que facilita a estabilização dos comportamento anti-sociais", defende Matilde Fernandes, autora do estudo, desenvolvido no âmbito da tese de mestrado em Psicologia da Justiça. A psicóloga conclui que, em 2001, a maioria dos 153 jovens (dos 12 aos 16 anos) com processos tutelares e educativos no Instituto de Reinserção Social (IRS), têm 15 anos, são do sexo masculino e oriundos de famílias tradicionais e disfuncionais. Um terço não frequenta a escola e 70% não vão além do 2.º ciclo do básico, pelo que o insucesso escolar é elevado.

Grande parte deles relaciona-se com grupos desviantes, sendo os crimes mais praticados o furto e o roubo, nomeadamente de telemóveis e dinheiro, que são "de rápida transacção". O que acontece, explicou, como resposta "ao facto de estarem desintegrados na sociedade".

No estudo, Matilde Fernandes identificou uma tipologia bipartida de menores, sendo mais frequente, entre os 153 visados, a correspondente a uma "delinquência mais normativa, de início tardio - aos 14 anos -, pontual e de menor gravidade". Este grupo apresenta uma postura de negação quando confrontado com os factos.

Um segundo perfil de delinquência é mais grave, de início mais precoce - aos 12 anos -, persistente ao longo do tempo e diz respeito a jovens indiciados várias vezes por roubo, injúria e violação de propriedade. Estes são responsáveis pela maior parte da criminalidade na cidade de Lisboa e resistem perante a intervenção dos serviços do IRS.

Por isso mesmo, a psicóloga defende uma intervenção adequada às necessidades e características específicas destes jovens, nomeadamente na escola através da aplicação de currículos alternativos, "ajustados aos défices relacionais e sociais apresentados" por eles.
Apesar de os dados serem de 2001 e a tese de 2003, a investigadora explicou que "a realidade actual é a mesma", sendo este um primeiro estudo (desenvolvido no primeiro ano de aplicação da Lei Tutelar Educativa) e cuja reavaliação só pode ser feita passados cinco a dez anos.

O congresso que hoje termina é uma iniciativa do Instituto de Estudos da Criança da UM e visa debater a intervenção com crianças, jovens e famílias numa perspectiva multidisciplinar.


Por Susete Pinheiro, in DN Online.

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