Os jovens consumidores de drogas recreativas, como o ecstasy, têm pouca noção da perigosidade do estupefaciente. Esta é uma das conclusões do livro “Novas drogas e ambientes recreativos”, da autoria de Lurdes Lomba, Fernando Mendes e João Relvas.
O livro “Novas drogas e ambientes recreativos” dá conta de um estudo realizado em 223 jovens e entre várias conclusões, sabe-se que os consumidores de ecstasy são jovens bem integrados socialmente, ou seja, das classes média e alta, na sua maioria, estudantes do sexo masculino que procuram sentir-se bem consigo próprios e levar a diversão ao máximo possível. Têm alguma noção da perigosidade do estupefaciente, sabendo inclusive que poderá trazer-lhes alguns problemas a nível do sono e da memória. A idade média ronda os 21 anos mas o consumo começa muitas vezes aos 17 anos, sempre feito em ambientes recreativos de música e dança, preferencialmente ao fim de semana.
“O ecstasy não é uma droga marginal usada por um grupo específico de pessoas; pelo contrário, é uma droga que mostra ter uma enorme capacidade de expansão e que facilmente se relaciona com a cultura juvenil”, refere Lurdes Lomba.
O consumo inicia-se cada vez mais precocemente e, curiosamente, são os jovens com menos habilitações académicas os que consomem mais comprimidos de ‘ecstasy’. São também os jovens com habilitações literárias até ao 9.º ano que “têm representações mais positivas do ecstasy, facto que poderá, eventualmente, relacionar-se com a referida toma de um maior número de comprimidos”.
Policonsumo
Outra característica deste grupo de jovens é o facto de serem policonsumidores, consumindo ecstasy com outras drogas, como por exemplo cocaína para conseguir um aumento dos efeitos estimulantes, ou, por outro lado, haxixe, ou cannabis, para acalmar. Os resultados obtidos, quando comparados com um outro estudo efectuado em 1996, também em Coimbra, demonstram uma certa “desmistificação” do perigo da mistura do ecstasy com outras substâncias. “Cerca de 80 a 90 por cento destes jovens mistura ecstasy com álcool, cerca de 40 por cento mistura com cocaína e praticamente com a mesma frequência com que misturam com álcool, misturam com cannabis”, revela Lurdes Lomba. Mas porque estas drogas recreativas não causam dependência física, uma parte destes consumidores não as considera perigosas. No entanto, “de cada vez que se consome, consome-se mais quantidade de ‘pastilhas’, e recorre-se mais ao policonsumo”.
Segundo Lurdes Lomba o estudo pretendeu fazer uma análise do consumo de ecstasy em Coimbra e contribuir para a definição de estratégias preventivas com intervenções dirigidas para consumidores. O fenómeno do consumo de drogas é “relativamente fluido e com mudanças rápidas”, que depende muito de modas, afirma João Relvas, co-autor, para quem este tipo de estudos é importante até para “sensibilizar as próprias famílias dos consumidores e toda a sociedade em geral”. Estes são fenómenos que têm um impacto grande na sociedade porque condicionam estilos de vida e comportamentos das pessoas.
Surpresas preocupantes
O estudo foi feito com a colaboração de donos de bares e discotecas e dj’s, e teve algumas surpresas preocupantes. Nomeadamente o facto de na Lousã, os cerca de 20 inquéritos realizados revelarem referências ao consumo de ketamina, muitas vezes vendida como ecstasy. “É preocupante porque é uma droga potente”, refere Lurdes Lomba.
Trata-se de um poderoso anestésico dissociativo, utilizada inclusive em animais de grande porte, que se encontra sob a forma de pó branco, líquido ou tablete e que é consumido por via oral, inalada ou injectada. A sua posse não é, contudo, ilegal, dado que é prescrita por médicos. A K, ou special K, como é chamada pelos seus consumidores, é uma droga psicadélica derivada da fenciclidina. Começou a ter funções recreativas nos anos 70, sendo depois integrada nos contextos de festas rave.
João Relvas é chefe do Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Fernando Mendes é presidente do IREFREA Portugal (Instituto Europeu de Investigação de Factores de Risco e Protecção de Crianças e Adolescentes), instituição de pesquisa no âmbito dos consumos de droga em ambientes recreativos, e Lurdes Lomba é docente da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Por Paula Alexandra Almeida, in O PRIMEIRO DE JANEIRO
O livro “Novas drogas e ambientes recreativos” dá conta de um estudo realizado em 223 jovens e entre várias conclusões, sabe-se que os consumidores de ecstasy são jovens bem integrados socialmente, ou seja, das classes média e alta, na sua maioria, estudantes do sexo masculino que procuram sentir-se bem consigo próprios e levar a diversão ao máximo possível. Têm alguma noção da perigosidade do estupefaciente, sabendo inclusive que poderá trazer-lhes alguns problemas a nível do sono e da memória. A idade média ronda os 21 anos mas o consumo começa muitas vezes aos 17 anos, sempre feito em ambientes recreativos de música e dança, preferencialmente ao fim de semana.
“O ecstasy não é uma droga marginal usada por um grupo específico de pessoas; pelo contrário, é uma droga que mostra ter uma enorme capacidade de expansão e que facilmente se relaciona com a cultura juvenil”, refere Lurdes Lomba.
O consumo inicia-se cada vez mais precocemente e, curiosamente, são os jovens com menos habilitações académicas os que consomem mais comprimidos de ‘ecstasy’. São também os jovens com habilitações literárias até ao 9.º ano que “têm representações mais positivas do ecstasy, facto que poderá, eventualmente, relacionar-se com a referida toma de um maior número de comprimidos”.
Policonsumo
Outra característica deste grupo de jovens é o facto de serem policonsumidores, consumindo ecstasy com outras drogas, como por exemplo cocaína para conseguir um aumento dos efeitos estimulantes, ou, por outro lado, haxixe, ou cannabis, para acalmar. Os resultados obtidos, quando comparados com um outro estudo efectuado em 1996, também em Coimbra, demonstram uma certa “desmistificação” do perigo da mistura do ecstasy com outras substâncias. “Cerca de 80 a 90 por cento destes jovens mistura ecstasy com álcool, cerca de 40 por cento mistura com cocaína e praticamente com a mesma frequência com que misturam com álcool, misturam com cannabis”, revela Lurdes Lomba. Mas porque estas drogas recreativas não causam dependência física, uma parte destes consumidores não as considera perigosas. No entanto, “de cada vez que se consome, consome-se mais quantidade de ‘pastilhas’, e recorre-se mais ao policonsumo”.
Segundo Lurdes Lomba o estudo pretendeu fazer uma análise do consumo de ecstasy em Coimbra e contribuir para a definição de estratégias preventivas com intervenções dirigidas para consumidores. O fenómeno do consumo de drogas é “relativamente fluido e com mudanças rápidas”, que depende muito de modas, afirma João Relvas, co-autor, para quem este tipo de estudos é importante até para “sensibilizar as próprias famílias dos consumidores e toda a sociedade em geral”. Estes são fenómenos que têm um impacto grande na sociedade porque condicionam estilos de vida e comportamentos das pessoas.
Surpresas preocupantes
O estudo foi feito com a colaboração de donos de bares e discotecas e dj’s, e teve algumas surpresas preocupantes. Nomeadamente o facto de na Lousã, os cerca de 20 inquéritos realizados revelarem referências ao consumo de ketamina, muitas vezes vendida como ecstasy. “É preocupante porque é uma droga potente”, refere Lurdes Lomba.
Trata-se de um poderoso anestésico dissociativo, utilizada inclusive em animais de grande porte, que se encontra sob a forma de pó branco, líquido ou tablete e que é consumido por via oral, inalada ou injectada. A sua posse não é, contudo, ilegal, dado que é prescrita por médicos. A K, ou special K, como é chamada pelos seus consumidores, é uma droga psicadélica derivada da fenciclidina. Começou a ter funções recreativas nos anos 70, sendo depois integrada nos contextos de festas rave.
João Relvas é chefe do Serviço de Psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Fernando Mendes é presidente do IREFREA Portugal (Instituto Europeu de Investigação de Factores de Risco e Protecção de Crianças e Adolescentes), instituição de pesquisa no âmbito dos consumos de droga em ambientes recreativos, e Lurdes Lomba é docente da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra.
Por Paula Alexandra Almeida, in O PRIMEIRO DE JANEIRO
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