sexta-feira, fevereiro 16, 2007

O julgamento de 11-M: "Condeno os ataques..."


De barba e bigode, camisola de lã cinzenta sobre camisa branca e anorak branco, Rabei Osman surgiu da sala blindada, após ordem do juiz-presidente Javier Gómez Bermúdez, e sentou-se calmamente no banco dos réus.


Expectantes, os olhos de todos os que seguem o julgamento em Madrid concentraram-se nele à espera das primeiras declarações. Mas o ‘Egípcio’, considerado um dos cérebros dos atentados de 11-M, decepcionou-os. “Com todo o respeito não vou responder a nenhuma pergunta”, afirmou, desafiador. Mas antes da pausa para o almoço mudou de ideias: afinal vai responder às questões que lhe colocar o seu advogado. E , ao fazê-lo, condenou “incondicionalmente” os ataques e negou ter qualquer relação com eles.

Esclarecida a sua posição face ao tribunal, o acusado dirigiu-se ao juiz e pediu que lhe deixasse expor aquilo que disse serem as suas razões. Em tom autoritário e seco, Gómez Bermúdez deixou claro que não vai admitir manobras: “As suas razões não são exigidas por este tribunal porque a Constituição espanhola reconhece o direito de não declarar.” Rabei insistiu e, perante a recusa, não respondeu a nenhuma das questões.

Osman, um dos 29 arguidos, é acusado de 191 mortes (o número de vítimas dos atentados de Madrid), de 1824 assassinatos em forma tentada, de ter causado dois abortos, já que a acusação tem em conta que duas das vítimas mortais estavam grávidas, e ainda de mais quatro delitos de estragos materiais por terrorismo. Pode ser condenado a mais de 38 mil anos de prisão mas o cúmulo jurídico, segundo o Código Penal espanhol, impõe um limite de quarenta anos. Apesar de haver provas do seu envolvimento, Rabei nega qualquer relação com os ataques. Mais, disse que os condena “incondicionalmente”, como condena todas as formas de atentados.

Os próximos a declarar serão Youssef Belhadj (também considerado mentor do 11-M ), Hassan el Haski, alegado líder de um grupo islâmico marroquino, e os presumíveis autores materiais Jamal Zougam, Abdelmajid Bouchar e Basel Ghalyoun.

SOBREVIVENTES FALTAM

Os sobreviventes dos atentados tinham 150 lugares reservados na sala do julgamento, mas apenas cerca de metade foram ocupados. Ángeles Domínguez, presidente da Associação 11-M afectados pelo Terrorismo, explicou que muitos preferiram evitar o impacto do encontro com todos os arguidos, alguns dos quais (os que estão em liberdade) acedem à sala de audiência pela mesma porta que os sobreviventes e familiares das vítimas. A própria Ángeles confessou não ter sido capaz de enfrentar o primeiro dia do julgamento.

SEGURANÇA MUITO APERTADA

As autoridades espanholas elevaram o nível de alerta de baixo para médio dias antes do início do julgamento do 11-M, em Madrid. O alerta permanecerá em vigor até depois do aniversário dos atentados. Efectivos adicionais da polícia e do Exército foram destacados para áreas públicas sensíveis e para protecção da rede de água e electricidade. Na Casa de Campo, onde decorre o julgamento, 300 agentes velam pela segurança, apoiados por blindados, helicópteros e centenas de outros efectivos policiais.

NOTAS

MAIS DE 270 MIL ANOS DE PRISÃO


O Ministério Público pede um total de 270 885 anos de prisão para os 29 arguidos deste processo que deverá prolongar-se até ao Verão.

SALA ESPECIALMENTE PREPARADA

O julgamento decorre na Casa do Campo, em Madrid, numa sala especialmente preparada que tem uma cela blindada.

CENTENAS DE JORNALISTAS

400 jornalistas de 160 órgãos de informação acreditaram-se para a cobertura do julgamento. Os jornalistas seguem as sessões por circuito interno de TV.

(...)

in Correio da Manhã
(Foto: Juanjo Martin, Reuters)

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