sábado, setembro 15, 2007

A pressa das alterações na Justiça

"A Justiça é um dos sectores do País com pior imagem. Os últimos casos mediáticos - Casa Pia, Joana e agora Maddie - só contribuíram para pintar de negro o que já era cinzento escuro. A maioria dos portugueses desconfia da investigação, primeiro, e das decisões dos tribunais, depois. Daí que as alterações que há muito vinham a ser estudadas, como a constituição de uma Comissão para a Reforma Penal, fossem de extrema importância.

Mas quando, em vésperas de entrarem em vigor as alterações aprovadas para o Código Penal, o procurador-geral da República vem dizer que era preciso mais tempo para aplicar as novas medidas, e quando o representante dos magistrados do Ministério Público acrescenta que a sua aplicação pode colocar em causa a segurança do País a desconfiança dos portugueses não abranda. Aliás, só pode aumentar.

A pressa nunca foi boa conselheira. Alterações com a dimensão das que, a partir de hoje, a Justiça portuguesa tem de lidar não podem gerar tamanhos anticorpos. Nem se ultrapassam com o anúncio de mais uns milhões de euros para dar os meios de investigação pedidos pela Judiciária e computadores pessoais aos juízes, como ontem o ministro correu a fazer.

Imagine o rol de possibilidades que este exemplo permite: escolhe-se o tema que nos preocupa, junta-se o nome do político cuja acção queremos avaliar, e, em vésperas de eleições, premindo uma simples tecla de computador, surgem no ecrã todas as posições públicas do visado durante um determinado período, como a legislatura que chega ao fim. Ou, ainda, a lista das intenções programáticas de cada partido para cada problema nacional, seguida das medidas efectivamente postas em prática por quem governou, ou as alternativas por parte da oposição.

Eis matéria-prima para réplicas em debates parlamentares, folhas com citações comprometedoras para os adversários tiradas da cartola com tempo de entrada bem coreografado, que fazem as delícias de segmentos, à vez, do hemiciclo. Tudo ao alcance do cidadão-eleitor comum!

A Internet vai entrar, mais tarde ou mais cedo, na coutada exclusiva da retórica dos políticos, permitindo um escrutínio público mais profundo e fundamentado. Começa, agora, na Austrália, com um novo programa oferecido pelo Google Austrália. Qualquer dia poderemos também nós assapar as incoerências do deputado, ou do primeiro-ministro, que ajudámos a eleger com o nosso voto... "

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