quarta-feira, abril 11, 2007

Serviços jurídicos à venda nos centros comerciais

Depois de comprar uma camisola, um perfume, ou até de comer uma sopa num centro comercial, já pode entrar na loja ao lado e adquirir também o serviço de um advogado.

A novidade foi ontem apresentada nas galerias Saldanha Residence, em Lisboa, e chama-se, precisamente, Loja Jurídica. Trata-se do primeiro consultório num centro comercial, aberto das 10.00 às 23.00, incluindo fins de semana, e com seis advogados sempre disponíveis. A primeira consulta custa 35 euros e tratam dos assuntos mais variados: divórcios, impugnações de despedimento, querelas de consumo, testamentos, registos... com a garantia de haver tabela de preços afixada - raro em escritórios de advogados.

"Com esta iniciativa não retiramos dignidade à profissão. Pelo contrário. Tornámos a advocacia mais próxima dos cidadãos." Quem o afirma é Sofia de Almeida Ribeiro, mentora da Loja Jurídica, que, garante, é inédita no mundo. "Investigámos e não encontramos nada igual", disse ao DN. A próxima loja vai surgir em Junho no centro comercial Amoreiras, pretendendo chegar às 16 lojas, com 100 profissionais, daqui a três anos.

Quando o universo dos advogados atingiu os 25 mil, 45% dos quais não têm mercado para exercer a profissão em full time, e com dois mil novos estagiários cada ano, Sofia de Almeida Ribeiro idealizou um espaço com um design moderno, um open space dominado pela cor preta das togas, com quatro gabinetes separados por resguardos que asseguram a privacidade. Tudo com muito bom gosto. Os clientes são atendidos à entrada por um funcionário que os encaminha para o advogado que melhor se adaptar à questão pretendida.

A tradição já não é o que era. Até agora, a advocacia caracterizava-se pelo seu manifesto interesse público e função social, exercida por profissionais distantes. Questionada sobre se este tipo de comercialização de serviços é compatível com aquele estatuto, Sofia de Almeida Ribeiro assegura que "a Loja Jurídica é um projecto de justiça que assenta na necessidade de servir" e afirma que também reivindica o exercício da advocacia como uma função social. "A única diferença em relação à advocacia tradicional é a maior proximidade com o público", disse.

Mas nunca ninguém imaginou poder comprar serviços jurídicos num centro comercial. Confrontado pelo DN, o bastonário da Ordem dos Advogados (OA) não tinha conhecimento de que esta loja iria surgir num centro comercial. "O que sei é através das perguntas que me está a fazer. A OA vai averiguar se a prestação de serviços e o modo de os publicitar respeitam os Estatutos da profissão e só depois é que emitirá um juízo de valor", disse Rogério Alves.


Por Licínio Lima, in DN Online.

Sem comentários: