sábado, março 01, 2008

"Quem legisla é o Governo e não a Magistratura..."

Conde Rodrigues avisa que quem legisla é o Governo e não a magistratura

"A proposta merece a nossa análise." A garantia é dada ao DN pelo secretário de Estado adjunto da Justiça, Conde Rodrigues, face à proposta do bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, de incluir advogados no órgão de gestão de tribunais previsto para o novo mapa judiciário.

No início de Fevereiro, o representante dos 25 mil advogados explicava ao Governo a sua proposta para o órgão de gestão de cada tribunal. "Os tribunais deveriam ser geridos democraticamente por uma comissão de gestão integrada por juízes, procuradores, advogados e por administradores nomeados pelo Ministério da Justiça", defendia Marinho Pinto, garantindo que esta sugestão foi também aplaudida pelo Procurador-geral da República, Pinto Monteiro.

Contactado pelo DN, António Cluny também concorda com a sugestão. "Na proposta do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público sugerimos uma Comissão Permanente onde estaria representado o bastonário dos Advogados, presidido pelo procurador-coordenador", explicou o representante dos magistrados do Ministério Público.

Desta feita, e pelo menos neste ponto, existe um consenso alargado. O secretário de Estado prometeu acolher as propostas do sector - juízes, magistrados e advogados - "que muitas vezes são contraditórias", mas avisando que "não se pode agradar a todos".

Ontem, numa conferência organizada pela Associação de Juízes pela Cidadania, em Lisboa, sobre o mapa judiciário, Conde Rodrigues fazia um aviso claro e direccionado: "a quem cabe legislar é ao Governo e ao Parlamento; à magistratura cabe aplicar a lei". E o membro do gabinete de Alberto Costa foi mesmo mais longe: "O respeito pela separação de poderes tem dois lados e por isso é necessário haver um respeito mútuo nesse sentido."

No que se refere ao modelo de gestão defendido pela Associação Sindical dos Juízes Portugueses, António Martins sublinhou que, a acontecer esse cenário, é preciso "tornar claro que não vai mexer com as funções jurisdicionais de cada um dos juízes".

O secretário de Estado adjunto reiterou, mais uma vez, que a proposta não "pressupõe o encerramento de tribunais, mas sim a aglomeração dos mesmos", estando previsto, inclusivamente, a abertura de mais tribunais do que os inicialmente previstos. E deu o exemplo do Tribunal de Sines. "Esta reforma não será feita para encerrar serviços, mas sim para gerir melhor os recursos."

A proposta de mapa judiciário prevê a conversão das 230 comarcas existentes actualmente em 35 circunscrições, devendo esta mudança iniciar-se com três experiências-piloto no Baixo Vouga, Lisboa-Sintra e Alentejo Litoral.

O novo modelo organizativo, que deverá estender--se a todo o País dentro de dois anos, e que arranca em Setembro com as três experiências piloto, prevê um presidente do tribunal (magistrado judicial) e um administrador do tribunal.

Sem comentários: