quarta-feira, junho 04, 2008

Metade dos abusos em família praticados pelo pai

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e o Instituto de Medicina Legal do Porto chegaram à conclusão de que dos casos de abuso sexual de menores analisados entre 1997 e 2004, 34,9% ocorrem no seio da família e, destes, 6% são praticados pelo padrastro da vítima

Entre 1997 e 2004 houve 1141 casos de violência

Mais de metade das crianças vítimas de agressão sexual no seio familiar é abusada pelo pai ou padrasto. Esta é a conclusão de um estudo da responsabilidade de Francisco Taveira, investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), divulgado pela Lusa.

Os dados foram recolhidos na delegação Norte do Instituto de Medicina Legal (IML), entre 1997 e 2004. Dos 1141 casos recolhidos foram analisados 77%, dos quais 34,9% dizem respeito a abusos intrafamiliares. Neste tipo de agressões, 45% são vítimas do próprio pai e 6% do padrasto.

A coordenadora da investigação, Teresa Magalhães, directora do IML/Porto, explica ao DN que o objectivo foi caracterizar o abuso sexual de crianças e jovens no contexto intra e extrafamiliar, de forma a perceber as diferenças entre as duas situações. As agressões analisadas dizem respeito a crianças entre os zero e os 17 anos.

"Foi um trabalho retrospectivo, mas não podemos traçar um perfil do agressor. Sabemos que é homem, uma vez que só registámos um caso de uma mulher agressora", esclarece Teresa Magalhães. "Outro dado que ficou claro é que os abusadores têm normalmente um passado sexual desviante", acrescenta a directora do IML/Porto.

Para esta responsável, torna-se necessária a criação de estruturas que ajudem os agressores a resolver o seu passado e a reconhecer o crime que cometeram. Também os investigadores defenderam, em declarações à Lusa, que "uma melhor compreensão das características dos diferentes tipos de abuso permite melhorar a detecção dos casos e encaminhar, tratar e proteger as vítimas de forma mais adequada".

Nos casos de abusos intrafamiliar, os investigadores verificaram que a vítima é mais nova, os abusos são menos intrusivos, mas as práticas são mais repetidas e muito difíceis de detectar e diagnosticar. Enquanto as crianças agredidas por indivíduos exteriores à família sofrem abusos mais violentos, mas com menor frequência.

"Os casos extrafamiliares são detectados e travados mais precocemente", adiantam os investigadores. Mesmo quando o abusador é exterior à família, em 65% dos casos é uma pessoa conhecida da vítima.

"As agressões não têm normalmente testemunhas", explica Teresa Magalhães. Depois, "como este tipo de abusos não deixa lesões físicas que necessitem de cuidados médicos, quando a vítima chega até nós [IML], quase não tem vestígios", acrescenta a responsável. Assim, "torna-se necessário que o testemunho das crianças seja mais valorizado", defende a coordenadora do estudo Teresa Magalhães.

Por Ana Bela Ferreira, in
DN Online

1 comentário:

Anónimo disse...

Actualmemte na comunidade cientifica discutem-se as "falsas memorias" das crianças vitimas de abuso sexual, havendo estudos que referem ser apenas de 4% os casos de "falsas memorias" em crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 16 anos, diminuindo este valor à medida que a idade aumenta.No entanto, é frequente ouvir por parte de procuradores, inquiridores, pedopsiquiatras e psicologos, assistentes sociais e agentes da policia judiciaria afirmações como "as crianças mentem". Como psicologa clinica sinto-me isolada na indignação face a este tipo de afirmações defensivas e extremamente coniventes com o abuso. Como é que podemos valorizar mais o testemunho das crianças vitimas deste tipo de crime, se a opinião generalizada de tecnicos ditos especializados é quase sempre unanime - tudo não passa da imaginação infantil.