terça-feira, janeiro 09, 2007

Violência doméstica sobre idosos aumentou 60% em 2006


Um estudo desenvolvido na Universidade do Minho, coordenado pelo professor José Ferreira Alves, do departamento de Psicologia, junto de 104 pessoas, com 65 anos e mais, em três centros de dia de Braga, que vivem de forma relativamente independente no concelho, revela que três em cada quatro confessaram-se vítimas de maus-tratos, negligência, abuso emocional e exploração financeira, isto é, 73,1% das pessoas inquiridas. "O abuso físico está apenas relacionado com a idade enquanto que o abuso emocional está significativamente relacionado com todas as variáveis que estudamos, como a idade, o estado financeiro ou o estado civil".

Os resultados deste estudo vêm ao encontro dos números apresentados, ontem, pelo Núcleo Mulher e Menor, um projecto da GNR que estuda também episódios de violência cometidos com vítimas específicas, como idosos ou deficientes. Segundo os responsáveis pela força militarizada, o número de casos de violência doméstica sobre idosos aumentou quase 60 por cento em 2006, registando assim um caso de agressão em cada três dias.

De acordo com os resultados divulgados pela TSF, foram abertos 139 inquéritos por maus-tratos a idosos, entre Janeiro e Novembro de 2006, ao passo que, durante todos o ano de 2005, o número de queixas não ultrapassou as 82. Bragança e Almada lideram o ranking do maior número de queixas apresentadas.

O professor da Universidade do Minho refere que existem factores de risco entre os idosos potenciais vítimas de maus-tratos, destacando-se entre eles o género feminino, sem escolaridade, mais de 80 anos, viúva, vivendo com os filhos e percepcionando a sua saúde como má. Do outro lado da barricada, ser homem, com mais escolaridade, menos idade, casado, vivendo com a esposa e com a percepção de uma saúde boa ou razoável, são os indicadores que no estudo são referidos como aqueles que mais protecção dão contra os maus-tratos.

Uma das primeiras ideias que José Ferreira Alves destaca prende-se com o número de pessoas que não apresentam qualquer indício de abuso, cerca de 27%. "Aparentemente este número é impressionante por parecer bem longe do que seria esperado ocorrer. Dos 73% onde observamos indícios de abuso, 28% apresentam um indício, 11% apresentam dois e outros 11% apresentam três indícios de abuso; finalmente, em 1,2%, a que corresponde uma pessoa, possivelmente atípica, estão presentes todos os indícios estudados neste estudo".

Um segundo aspecto central que os dados revelam é a natureza desses abusos, que são liderados pela negligência, seguido do abuso emocional da esmagadora maioria das pessoas.

Em terceiro lugar os factores sociodemográficos que se encontram associados de forma altamente significativa e significativa com o abuso em geral são, respectivamente, a percepção do estado de saúde por um lado (quanto pior a percepção do estado de saúde maior é o número de indícios) e a idade e o sexo por outro (mais abuso para os de mais idade e para as mulheres).

O estado de saúde aparece como uma variável muito significativamente associada com o abuso financeiro, emocional e de negligência quanto pior a percepção do estado de saúde mais indícios de abuso existem. Já a idade só aparece significativamente associada com o abuso físico e com o abuso emocional: quanto maior a idade mais indícios de abuso físico e emocional. Finalmente, o género aparece associado significativamente com a negligência, com as mulheres a sofrer mais negligência do que os homens.

Por Pedro Antunes Pereira, in Jornal de Notícias.

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