terça-feira, janeiro 30, 2007

Ainda a corrupção


Por Eduardo Dâmaso
(Editorial Diário de Notícias)

"Um pequeno dado para o debate sobre o combate à corrupção em Por- tugal: as autoridades policiais espanholas recuperaram em 2006 cerca de três mil milhões de euros no âmbito da luta contra a corrupção e o crime organizado. O balanço foi divulgado ontem pelo El País e os dados, para lá da soma de dinheiro, são impressionantes. Foram detidas 589 pessoas, entre as quais mais de cem ligadas à administração pública, as operações policiais aumentaram 30 por cento e o número de presos à volta de 17 por cento. A lista dos bens confiscados é interminável: centenas de casas, 300 quintas, 24 lojas, 686 automóveis (a maior parte de luxo), 15 barcos, um helicóptero, armas de fogo, 390 obras de arte, milhares de quilos de drogas, 34 quilos de ouro, centenas de pedras preciosas, cavalos e touros de raças valiosas...

Os maiores contributos foram dados pelas operações "Baleia Branca" e "Malaya", que rebentaram com o peculiar sistema de governo em Marbella e evidenciaram como o dinheiro sujo se transforma facilmente em dinheiro limpo. No caso concreto da "Operação Malaya", nunca será de mais dizer que ela atingiu toda o executivo municipal, construtores e outros empresários, bem como os directores de serviços colocados nos pontos mais nevrálgicos do município, ou seja, no urbanismo, nas obras municipais, nas autorizações de construção, etc.

Perante estes resultados históricos, Espanha, que já tem estruturas fortes de combate à corrupção na Guarda Civil, no Corpo Nacional de Polícia, no Ministério Público e na Audiência Nacional, sobretudo com juízes, magistrados, polícias, funcionários e peritos dotados de formação específica para combater os crimes económicos, prepara-se para avançar com uma nova unidade especializada na repressão do branqueamento de capitais e da corrupção.

Em Portugal, que tem estruturas judiciárias frágeis, que não tem resultados nem qualquer estratégia de combate no domínio preventivo, que é um país onde se desprezam os contributos das estruturas de fiscalização do Estado ou se governamentalizam essas inspecções, o mero debate sobre o fenómeno é um caso político muito complicado. Fica a espuma das "asneiras", do confronto à volta dos meios, a conversa dos "modelos", o jogo do avança-recua. Baralha-se para se voltar a dar um dia destes. Há vinte anos que é assim, há vinte anos que não se sai disto! Há vinte anos que querem que nos contentemos com a ideia patriótica de que, afinal, não somos assim tão maus neste campeonato da corrupção ou que não se deve gritar muito alto coisas que podem deixar mal o País lá fora. Pois sim..."

Sem comentários: